Reflexão prática da natureza das linguagens

Numa conversa em Hamburgo, no verão de 2024, enquanto tomávamos chá à meia noite com outros estagiários no DESY, o alemão Konrad lançou uma pergunta curiosa:

"Porque é que as palavras podem ter vários significados? Não seria mais simples, para fins de comunicação, que cada coisa tivesse apenas uma palavra associada, e cada palavra um único significado?"

Não consegui responder de imediato, porque parecia óbvio usarmos uma linguagem clara e eficiente como a que ele propunha. Só mais tarde reparei que já usamos esse tipo de linguagens no dia a dia. Linguagens cujas palavras têm apenas um significado, como a matemática, onde queremos que cada símbolo não seja ambíguo e tenha um significado preciso.

Respondendo à pergunta de Konrad, a comunicação ficaria muito eficiente, mas surgiria um problema. Se quiséssemos representar um objeto com diferentes formatos, cores, acústica, precisaríamos de uma palavra que correspondesse à junção dessas características. À mínima alteração de uma dessas características precisaríamos de outra palavra diferente para garantir precisão e desambiguidade. Na prática temos que reduzir a carga cognitiva, quando introduzimos ambiguidade o número de palavras diminui tornando as linguagens human friendly.

Também não é claro como dar nomes a conceitos abstratos, como emoções e sentimentos. A única forma de garantir que duas pessoas estão realmente a falar do mesmo que sentem seria unir as suas consciências numa só. Outro problema: não é claro até que ponto queremos dar nomes às coisas, porque também dependemos das palavras que as outras pessoas conhecem para comunicar com elas. Existem mais problemas práticos: como seria então a comunicação entre pessoas? Como poderíamos contar uma história? Seria uma única palavra suficiente para representar uma conversa?

Quando procuramos a verdade, na forma de raciocínio ou a fazer ciência, temos que levar as coisas o mais literal possível, caso contrário abrimos portas à imprecisão. O que faz uma linguagem mais ambígua não é a quantidade de símbolos ou palavras expressáveis, mas o nosso comportamento perante elas.


Em linguagens formais, como a matemática, evita-se a ambiguidade. Por isso, o número de significados por símbolo é mais reduzido do que, por exemplo, na linguagem natural. No extremo oposto, considero a música a linguagem mais abstrata, onde cada símbolo como notas ou acordes tem o máximo de singificados possíveis.

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